A revisão das investigações de Kleist sôbre a patologia cerebral mostram como suas idéias sôbre o dinamismo surgem a partir da realidade clínica. As investigações neurológicas servem de guia para as psicopatológicas. E, assim, por etapas, elaborou Kleist as noções dos "sistemas cerebrais" e seu papel no que tange às funções neurológicas e psíquicas. Uma função nervosa qualquer é assegurada pelo concurso de dois setores funcionais a que correspondem substratos anatômicos próprios; ao exercício complexo das funções da motilidade automática, por exemplo, correspondem várias estruturas anatômicas em todas as quais distinguem-se dois grupos de centros com sentido funcional diverso: um, a que cabe o papel de recepção e coordenação de estímulos, outro, de efetuação. Tal dualidade de funções primordiais é a base para o desempenho de atividades neurológicas ou psíquicas, ocorrendo tanto no setor da motilidade automática, como no da psicomotilidade, no da ação explícita, no da linguagem, no do pensamento abstrato. Foi a patologia que permitiu a Kleist a separação entre dois setores funcionais prepostos a elaboração do pensamento abstrato: aos campos 19 e 39 de Brodmann correspondem funções receptivo-coordenadoras prepostas à elaboração dos conceitos; a perturbação dessas funções conduz a uma desordem que consiste na dificuldade ou impossibilidade de elaboração dos conceitos isolados: desordem paralógia. O homem, porém, não pensa por meio de conceitos isolados; reúne-os em juízos, por meio de relações predicativas. Ê ao córtex cerebral frontal, campo 46, que dizem respeito tais funções de reunião, de efetuação do pensamento discursivo. As perturbações dessas funções, por desarranjo meramente dinâmico ou por desorganização anatômica, determinam a desordem alógica. Conquanto os dois tipos sejam encontradiços em variadas moléstias por lesão cerebral - assumindo, então, o papel de sinais focais - a desordem paralógica do pensamento, descrita muitas vêzes sob o conceito impróprio e impreciso de "desagregação mental", avulta, por sua importância e relativa pureza, nas moléstias esquizofrênicas.
Results of Kleist's researchs on brain pathology illustrate his conceptions on brain physiopathology and are disclosed in his "Gehirnpathologie", published in 1934. Kleist's ideas on brain dynamics are determined by clinical reality; the neurological researches serve as a guide to the psychopathological ones. Thus, by stages, Kleist constructs the notions of "brain systems" and their role concerned to neurological and psychic functions. Any nervous function is secured by the concourse of two functional sectors to which correspond proper anatomical substracts. Various anatomical structures, for instance, correspond to the complex execution of automatic motility but, in all these structures, there are two groups of centers with functional significance: one for reception and coordination of stimuli and another with innervatory functions (execution). Such a duality of primordial functions is necessary to complementary action for neurological or psychic functions. This is the mechanism for automatic motility, psychomotility, explicit action, language and abstract thinking. Pathology has allowed Kleist to distinguish two functional sectors designed for the elaboration of abstract thought, namely: the posterior cortical zone (19 and 39 Brodmann's fields) to which correspond receptive-coordinating functions, designed to the working out of concepts. The disturbance of these functions brings out a peculiar disorder, consisting in a difficulty or impossibility to elaborate isolated concepts: paralogical disorder. But man does not think isolated concepts, for these are gathered to form judgments by means of predicative relationships. Those "active" functions for gathering and affecting the discursive thought are related to the anterior brain cortex (Brodmann's field 46). A disturbance of these functions, by a mere dynamic derangement or through anatomical disorganization, brings out the alogical disorder. Although these paralogical and alogical disorders are found in many diseases due to brain lesions it is in Schizophrenia that the paralogical disorder rises in importance and relative purity. Paralogical disorders have often been described with the vague and inappropriate concept of "mental dissociation".